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PARKINSON – 11 DE ABRIL DE 2018
DIA MUNDIAL DO PARKINSON
Rogério Martins Simões
E de repente o céu desabou em mim!
O diagnóstico era terrível - PARKINSON
Uma flecha certeira transpôs o meu coração!
Olhei a ferida – das feridas escorre o vermelho cor de sangue - mas não vi sangue, porém, estava ferido e nem queria acreditar!
(Às vezes a vida é “madrasta” e cheia de sofrimentos.)
E vieram-me à cabeça tantos pensamentos.
Recordei-me que tinha passado mais de metade da minha vida a caminho dos hospitais
Afinal o nosso corpo é como uma árvore: as folhas caem no Outono e rebentam na Primavera.
Nesse tempo, dos 20 anos aos 40 anos de idade, de desmaio em desmaio o sangue brotava tomando a forma de melena e/ou hematémese.
Perguntava então aos Céus a razão para tanto tormento.
E encontrei dois velhos poemas:
HOJE
Rogério Martins Simões
Hoje
Fiquei sem nada
Olhando as estrelas,
Na rua,
Habilitando-me
A uma viagem à lua.
Hoje fiquei sem nada!
Sem lar!
Sem família!
Abandonado!
Aguardando
No espaço vazio
da minha vida
Pela casa cheia.
Hoje não há sol,
nem calor
E o meu coração
que falha
Lança na dor
Meu corpo frágil
Que desmaia…
2/3/1973
MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Martins Simões
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
1974
Em 1990 voltou a bonança! O barco balouçava mas não andava à deriva…
Mas, de repente, em 2002 o céu desabou em mim!
Se não era capaz de abotoar a camisa com a mão esquerda como iria ter forças para suster o céu?
PARKINSON
(DIAGNÓSTICO)
Rogério Martins Simões
Meu amor! Tu não estavas enganada!
Só tu darias pela diferença no gesto,
Pela minha expressão algo errada,
O meu lado esquerdo menos lesto.
Hoje, tu não ficaste surpreendida.
Componho este poema e não desisto:
A direita, com que escrevo, agradecida!
Com a esquerda não escrevo mas insisto!
Com a direita escrevo o “A” de amor!
Com a esquerda se escreve o “D” de dor!
E o resto deste poema em desespero!
Pois sofrer, tanto sofrer não conhece.
O meu corpo, tanto sofrer, não merece.
Sofrer mais, por sofrer, não quero!
04-06-2002
Chorei! Sim um homem também chora! Mas não me vou embora, embora às vezes até me apeteça partir…abandonar tudo.
Durante estes últimos anos tenho pedido a Deus, à vida ou ao Universo para ter coragem.
De vez em vez chegam notícias que me prometem ajudar a segurar o teto do céu com as minhas duas mãos de esperança. Deus queira!
Uma palavra de esperança a todos os que sofrem direta ou indiretamente: acreditem que somos nós que temos de refazer e lutar por uma vida melhor, minorando os sofrimentos e os estragos da alma ou do corpo.
ESPERANÇA
Rogério Martins Simões
Entrelaço os meus dedos nos teus:
Vivas ilusões, ténues lembranças.
Foram inatingíveis os versos meus,
Outono breve, poucas esperanças.
Ateámos o fogo nas estrelas dos céus.
Mapeávamos nossos corpos de danças.
Encontros e desencontros não são réus…
Presos não estamos, procuro mudanças.
Agora, adorno enigmas bordados de cruz,
Cintilam horizontes de esperança e luz,
Meu fogo arde no mais puro cristal.
E se na alquimia busco a perfeição,
Respondo às interrogações do coração,
Descubro no amor a pedra filosofal.
Lisboa, 02-10-2006 23:58
É através da poesia – canto mágico dos poetas – que tenho sempre presente, no meu coração, todos aqueles que mais sofrem – já nem escrevem! Já não falam – mas escutam se lhes falarmos de mansinho ao ouvido. Sendo assim escrevo por eles, em mim, com esta mão direita.
E se nesta missão conseguir fazer com que um, pelo menos um, se sinta menos infeliz, menos desamparado, menos solitário e com alguma confiança no futuro – então valeu a pena ser a meu modo solidário!
Incluo aqui todos os sofrimentos, todas as maleitas da carne ou da alma, ou seja – uma universalidade de doentes, doenças, guerras, ódios, fome, violência, racismo, abandono... Enfim, um sem número de males que dia a dia consomem o homem!
Aproveito para enaltecer os profissionais de saúde e os cientistas que, procurando amenizar a dor, colocam o amor, o saber, e o conhecimento científico, ao serviço da humanidade.
À restante comunidade, aos cidadãos que pagam os seus impostos e que devem exigir que estes sejam bem administrados, o apreço pelo cumprimento deste dever cívico e solidário.
Vou terminar.
Resta-me deixar aqui uma palavra de esperança num futuro melhor onde nem raças nem credos nos dividam. Onde haja lugar a um avanço na ciência para que todos possam ter uma vida mais digna. Porém, se essa evolução não vier a beneficiar os desprotegidos – POR FAVOR - deixem ficar tudo como está.
Muito obrigado aos cientistas portugueses!
Talvez nos devolvam a vontade para viver.
Entretanto, e mais uma vez, volto a sonhar!
Rogério Martins Simões
PARKINSON PORTUGAL