Tínhamos chegado adiantados.
Chegássemos mais cedo e já não teríamos de esperar.
Subimos por escadas rolantes que nos levaram por caminhos distantes ao quarto andar.
Que tragédia provar umas calças.
Os provadores têm pequenos triângulos que nem dão para sentar. Que importa, quem se importa, com todos aqueles que já nem conseguem andar? Não! Não olhem para mim que ainda consigo disfarçar…
Carinhosa, a Bete, pegava na minha mão esquerda que teimosamente se queria esconder. Dei-lhe a mão direita para não chorar, a esquerda tremia, tremia, e ainda não a consegui parar.
Voltam as angústias, esta enorme dor que eu sinto por tremer, esta mão que não escreve e que ao de leve se vai escondendo por querer.
Temo por mim… Não estou bem assim.
Meu corpo pesa, minha alma adoece, padece.
AVATAR
Pudesse recuar ao tempo em que meus pés voavam pelas pistas de cinza. Avatar!
Pudesse regressar ao meu corpo menino, evitando os caminhos que penei e continuo a penar.
Fui ao cinema, acabo de chegar.
O filme era tão lindo que acabei por chorar
A fita já acabou e vai recomeçar. Avatar! Avatar!
A Parkinson já avançou e não vai parar.
Bete, meu amor: que eu seja o teu AVATAR…
Lisboa, 27-12-2009 00:07:30