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INTROSPECÇÃO
Se não conseguires escrever
com as duas mãos,
ainda assim, escreverás com uma;
Se tiveres dificuldade em escrever direito,
com uma mão,
escreve com os dedos que te restam;
Se te tremerem as mãos
e sentires que te olham,
não te importes!
Só treme quem está vivo.
Se não conseguires escrever
Dita os teus reversos
para que alguém
te apare a escrita…
e o néctar dos teus versos.
Se mesmo assim
tiveres em dificuldade,
esforça-te:
grava as palavras
no teu coração
E recorda que já foste poeta
Lisboa, 29 de Janeiro de 2008
Rogério Martins Simões
(Vídeo com pintura de
Elisabete Maria Sombreireiro Palma)
Certo dia o céu desabou em mim: Fiquei a saber que sofria do Mal de Parkinson.
Foi assim que um dia escrevi quando resolvi criar um blog onde se falasse, e desse notícias, de avanços sobre a doença de Parkinson.
Passados estes anos vamos reparando que ficamos completamente sós, melhor, vamo-nos isolando no casulo das nossas casas – entre quatro paredes – e isso é mau.
A internet é um instrumento que nos pode ligar à vida – mesmo virtual. Pese isso, no meu caso, penso muitas vezes no meu futuro – no meu futuro muito negro. É verdade que devemos não desistir! É verdade que existem pessoas, dedicadas ao voluntariado, que tudo fazem para ajudar nas associações de Parkinson, porém, está verdadeiramente em nós, aqueles que ainda se podem movimentar, alterar as coisas procurando combater essa força natural para nos isolarmos.
Falando na primeira pessoa, afectado do lado esquerdo já há mais de 4 anos, não tenho outro remédio senão trabalhar. Isto de aposentações por incapacidade é complicado e, certamente, terei de optar por sair com penalização. Aqui começa a minha revolta quando vejo que o sacrifício não é para todos. Uns comem o bife outros comem as espinhas.
Quem faz a Lei terá de se aposentar aos 65 anos? Precisam de fazer 40 anos de descontos ou basta uma dúzia?
Qual a razão para se uniformizar por baixo, cortando regalias e mantendo, ao mesmo tempo, benesses adquiridas que me fazem corar de revolta!
Serve isto para dizer que a evolução da doença não é uniforme para todos e o mesmo acontece a certos senhores que se reformam com “chorudas” e acumuladas reformas, - um verdadeiro escândalo nacional.
Voltando ao meu caso, noto recentemente uma lenta prisão no movimento na minha mão direita que vai impedindo de reagir, como então o fazia. Como sou Funcionário Público e tenho de cumprir com objectivos! Que objectivos irei cumprir afectado como estou?
-Tenho de me aposentar perdendo 4,5% por ano de antecipação! Se não o fizer e adiando como adio a fisioterapia que vai ser de mim?
Finalizo com uma proposta que certamente resolveria esta questão. Como sabem os jovens estão a ficar desempregados e a emigração vai levando essa mão-de-obra.
A minha proposta é manter a idade de reforma como estava e criar uma Lei que impeça os reformados, que tenham reformas acima de 1000 Euros (por exemplo), de exercerem qualquer trabalho remunerado até aos 70 anos. Deste modo evitava-se que os reformados viessem a retirar postos de trabalho aos jovens, criavam-se empregos e cumpria-se o que tinha sido prometido, há muitos anos, por Lei aos trabalhadores.
Finalizo este testemunho para agradecer mais uma vez aos voluntários que ajudam e apoiam os que sofrem de doença incapacitante.
Aos investigadores que lutam pela descoberta da cura para as doenças degenerativas.
Quero agradecer à classe médica e ao pessoal de saúde que vai fazendo o que pode para remediar o sofrimento.
Quero recordar os familiares e os verdadeiros amigos que estão sempre prontos para ajudar. – Por vezes basta um gesto ou uma simples palavra.
Voltando ao meu caso – que seria de mim sem a constante presença da minha doce Elisabete Sombreireiro Palma. Não tenho palavras ou poemas que consigam explicar o quanto a Bete me tem ajudado. Os meus melhores poemas são-lhe dedicados, como o foi primeiro vídeo que consegui fazer, a muito custo, com a sua pintura.
Falar de Elisabete M. Sombreireiro Palma é falar de verdadeiro amor e dedicação ao próximo. É falar de arte! Foi com a sua pintura e com fados da Fadista Ana Marina que construí o vídeo que aqui deixo.
Esta é a justa homenagem que faço àquela que me ajuda a apertar os botões, que me ajeita o nó da gravata e a roupa. Esta é a simbólica homenagem a todos aqueles e aquelas que, sem darem a cara e sem publicidade ou à espera de agradecimento, ajudam ou estão sempre prontas a ajudar quem sofre.
Saúde para todos
Rogério Martins Simões
http://www.youtube.com/watch?v=iokb8FXy3Gw
http://video.google.com/videoplay?docid=8291487629655378595&hl=en
(Óleo sobre tela Elisabete M. Sombreireiro Palma)
(Parabéns Elisabete!
Meu lindo sonho presente e belo - como lindos são os teus quadros.
Desta vez dedico-te um soneto)
Sonhos desfeitos
Rogério Martins Simões
O Sol resplandece e a água espuma
As ondas vagueiam e o barco desliza
Sobra no meu peito uma dor bruma
Que se esfuma nas colinas da brisa
A minha mão sobressai e já foi calma
O meu papel reproduz o adverso
Deixa escrever o que chora a alma
Acalma, vagueia e ensaia um verso
A escrita azul tem uma mancha preta:
Letra miudinha que desenha a caneta.
Do bloco de notas gotejam os defeitos
E se não mais encontrar sonho vão…
Fiquem os versos que redigi com a mão
Colorindo sonhos, com sonhos desfeitos
Lisboa – Tejo – 14 de Agosto de 2007
Concluído em 18 de Outubro de 2007
http://poemasdeamoredor.blogs.sapo.pt
(Óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
Elevo o espírito
Rogério Martins Simões
Elevo o espírito! Tenho os olhos perto
Só o pensamento não o sinto tremer…
Entoo, num canto, um canto encoberto
O que a tremura não me deixa fazer.
Volto à poesia na catarse que liberto
Chegaste, assim, ao impasse quefazer?
Desdobro e retomo o amanhã incerto
Faço de conta que se vive sem viver?
Aperto as minhas mãos para as libertar
Vejo-as estremecer! Já não sabem parar
Salva-me poesia, não me deixe ficar mal.
Volta poesia, pois de chorar tudo chorei.
Volta! Que na dor, pela dor não morrerei
Quanta melancolia têm estes olhos de sal!
Meco, 09-07-2007 20:03
Piso a areia da praia
Rogério Martins Simões
Piso a areia da praia!
Que peso pesam os pés!
Parecem mesmo uma raia
Presa nas marés.
Transporto a toalha
Levo comigo o jornal
Lembro-me de jogar a malha
Levo a dor no bornal
Piso a areia da praia!
Vou pela borda da água.
Onda amena que se espraia
Leva contigo a minha mágoa...
Queria de novo ter saúde
Seria novamente tão feliz
Tremer não é virtude
Tremer eu nunca quis
Deito-me!
Penso!
Mesmo deitado no chão
- Mulher! Porque me aturas?!
Não te queria dar razão
Mas és tu que me seguras!
Como esta areia brilhante
A que a praia chamou de sua
Areia que da praia és amante
Oh mar salgado a praia é tua!
Um perfume paira no ar…
A vida a Deus pertence
O sol quente esconde a lua…
A maresia não veio para ficar...
A Parkinson não me vence
Vou continuar a lutar!
Piso a areia da praia
A maresia sofre um revés
A areia parece cambraia
Sacudo a raia dos pés…
30-09-2004 21:00:13
Aldeia do Meco
(Óleo sobre tela – 2007-
Elisabete M. Sombreireiro Palma)
Preciso de paz! Necessito de Luz
(Rogério Martins Simões)
Carrego as minhas emoções,
Sou lembrança e pensamento.
Como distinguir o indistinto
Se tudo não parece mudar
Confundem-me as emoções!
Bebo em cada momento,
A bebedeira que não sinto
Tombo! O meu corpo vai tombar!
Pouco importa que eu chore
Se meu o choro já não chora!
Decerto que a lua fugiu…
pois toda a noite se fez breu.
Ando por aí sem rumo,
cegueira virtual
que me conduz ao abismo.
Foi de propósito!
Conhecem o meu gosto pelo
Luar…
Acabo por passar
por uma fase da lua à
cintura…
Preciso de luz!
Necessito de paz!
Conduziram a estrela
da noite
ao hospício
Amarraram-na
num colete-de-forças.
Não forces o teu sorriso!
Se não te avisto…
Visto um disfarce
para libertar os prisioneiros…
Rastejo barata pelas
paredes
Medeio um conflito
entre loucos…
Preciso de luz!
Necessito de paz!
Certo que a lua não
fugiu,
de mim, sem eu…
Meu rumo é sofrer,
vendo, no real, este enorme
cinismo.
Roubaram o que me resta
do verbo amar
Acabo por cegar
e ainda, assim,
enxergo a amargura!
Lisboa, 3 de Maio de 2007
(Meco- Portugal 2007)
Ondas me vão levando
Rogério Martins Simões
Nestas tardes, vazias, ondas me vão levando
Nestas tardes tardias, nas ondas terei sofrido
Morto estarei se breve não estiver chorando…
Cedo estarei chorando; se tarde haverei morrido…
Homem, poeta, quimera ou sonho, até quando?
Aceito as tardes vazias e não me dou por vencido
Estou morto? Ou vivo num corpo que não comando?
Passos os dias sofrendo, de tanto sofrer dividido
E se a dor avançar, chorar não é humilhação
Quero combater meus choros desta atribulação
Quero esgrimir que o mau tempo traz a bonança
Erguerei barreiras para conter todas as marés
Que me travam as mãos e me tolhem os pés
E com elas erguerei uma fortaleza de esperança
05-03-2007 21:51
A coragem não falta aos grandes homens!
Todos temos de lutar e tentar viver um dia de cada vez - o melhor possível.
Rogério
ESPERANÇA
Entrelaço os meus dedos nos teus
Vivas ilusões, ténues lembranças
Foram inatingíveis os versos meus
Outono breve, poucas esperanças
Ateámos o fogo nas estrelas dos céus
Mapeávamos nossos corpos de danças,
Encontros e desencontros, não são réus
Presos não estamos, procuro mudanças
Agora, adorno enigmas, bordados de cruz
Cintilam horizontes de esperança e luz
Meu fogo arde no mais puro cristal
E se na alquimia busco a perfeição
Respondo às interrogações do coração
Descubro no amor a pedra filosofal.
Lisboa, 02-10-2006 23:58
PARKINSON PORTUGAL