Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
(Óleo sobre tela - TEMPESTADE
de ELISABETE MARIA SOMBREIREIRO PALMA)
DIA MUNDIAL DO DOENTE COM PARKINSON
11de Abril de 2008
(Sexta-feira à tarde)
RTP2 – SOCIEDADE CIVIL
(Programa apresentado por FERNANDA FREITAS)
No próximo dia 11 de Abril é lembrado à sociedade que existe uma doença, neurodegenerativa, que dá pelo nome PARKINSON.
No serviço público da televisão, de qualidade, RTP2, no programa magazine de informação, “Sociedade Civil”, vai falar-se sobre Parkinson.
Todos aqueles que são portadores desta doença sabem o que sofrem e o que fazemos sofrer. Nesta data, em meu nome e como portador da doença, entendo que devo agradecer a quem directa ou indirectamente nos ajuda.
Ao Tiago Fleming Outeiro, ilustre Professor e cientista português, e à sua equipa de cientistas, quero agradecer tudo o que tem feito para minorar os “estragos”. O Tiago sabe, que eu sei, que nos irá dar muitas alegrias. Talvez por isso não tenha estranhado as boas-novas que nos chegaram recentemente. Obrigado TIAGO por colaborar há anos com este modesto blog e com o blog “Mal de Parkinson” do Brasil.
Agradeço, também, aos restantes cientistas, aos médicos, aos restantes profissionais de saúde, às Associações de Parkinson, às famílias, aos voluntários e a todos aqueles que ajudam os milhões de doentes, onde incluo doadores, jornalistas e promotores de programas como o que vos é anunciado.
Queridos pais, não se preocupem tanto com este vosso filho! Gosto muito de vós! Pai, mestre poeta com quase 86 anos, vai passar tudo, não vai?!
Finalmente à minha esposa! Para ela tudo! Obrigado Elisabete Maria Sombreireiro Palma.
Aos verdadeiros amigos, e restantes portadores de Parkinson, vai um abraço numa manhã de esperança.
Deixo-vos em poesia alguns dos meus estados de alma, maus sofríveis ou razoáveis, desde que em 2002 me disseram: Sofre de Parkinson!
Não iremos desistir de lutar!
PARKINSON
(DIAGNÓSTICO)
Rogério Martins Simões
Meu amor! Tu não estavas enganada!
Só tu darias pela diferença no gesto
Pela minha expressão algo errada...
O meu lado esquerdo menos lesto.
Hoje, tu não ficaste surpreendida.
Componho este poema, e não desisto:
A direita, com que escrevo, agradecida!
Com a esquerda não escrevo mas insisto!
Com a direita escrevo o “A” de amor,
Com a esquerda se escreve o “D” de dor
E o resto deste poema em desespero.
Pois sofrer, tanto sofrer não conhece
Meu corpo, tanto sofrer, não merece
Sofrer mais, por sofrer, não quero!
04-06-2002
BASTA DE TANTO SOFRER
(13 de Maio)
Rogério Martins Simões
Basta de tanto sofrer!
Chega de tanta agonia!
Já não consigo escrever
E tremendo não ousaria.
Mas desta forma tremer,
Com esta mão temendo fria
Quisera alguém viver
Sem prazer ou alegria?
Pergunto a ti meu amor
A razão da minha dor:
Porquê tanto tormento?
E se adio o meu sofrimento
Em ti que só força recebo
Volto a ter coragem e escrevo.
13-05-2004 2:07:59
Destino ou Coragem
(
Deixei para trás o meu ego
Deixei o sonho segurar o tento…
Quis Deus ou o destino cego
Que o destino fosse tormento
Ao sonho e à coragem me apego
Gavião deixa passar o vento…
Sou náufrago em desassossego
Destino ou coragem sustento.
Não! Não mais quero o desespero!
Não negoceio contigo e não quero!
Sou trama e urdidura forte…
E se o destino a coragem revela
Partiremos juntos num barco à vela
Pois na coragem se combate a sorte…
Lisboa, 29-08-2006 22:36
Soprei numa pena…
Rogério Martins Simões
Soprei numa pena
Que se anichou à janela
Aí está ela, agarrada à empena.
Sem pena, partiu à vela….
Valerá a pena ir atrás dela?
Deu a volta e reentrou,
Parece serena!?
Soprei na pena e a pena voou,
Aí vai ela! Pela porta pequena…
Valerá a pena partir com ela?
Vem um passarito
Apanha-a no bico
Ouve-se um grito
Aí vai ela, a caminho do pico…
Valerá a pena ter pena dela?
Vem um gavião com asas de granito,
Devolve-me a pena, com penas na sela…
São do passarito que passou a goela
Parte gavião! Leva as penas maldito…
Regressou a pena!
Não voltei a soprar mais nela…
Parece serena,
A pena,
Que pena reencontrar-me com ela!
Hospital dos Capuchos, 19/9/2007
(Concluído em 02/10-2007)
Se voltasse não mais choraria
Rogério Martins Simões
Gosto dos simples como gosto de poesia
Até gosto d´ervas que crescem daninhas
Não gosto de choros e tristezas minhas
Viver por viver jamais viveria.
Provei o vinho amargo, da amarga agonia,
Feito de fel, alegrias-poucas, dores minhas.
Se voltasse não mais choraria
Beberia o vinho novo colhido das vinhas
Como poeta eu seja lembrado
Num cantar errante mas perfumado
Volte amanhã de novo a florir
E serei poema em forma de trigo
Semente de amor; cantar de amigo
Para que não mais chore o meu sorrir!
16-05-2005
POUCOS REFLEXOS ME RESTAM
Rogério Martins Simões
Poucos reflexos me restam
Muitas artes me esperam
e eu não vou…
Que importa a poesia
que não se escreve!?
Soluço tantas vezes
os meus poemas!
Engulo as penas…
E com algemas…
Desesperadamente
Não apanho os versos.
Se ao menos a outra mão
me acompanhasse
Deixasse de tremer
Enquanto escrevo poesia
Certamente prometia
Não mais chorar.
E neste acervo
Se eu achasse qualquer remédio
(Uma pílula milagrosa qualquer)
Que me pudesse rejuvenescer
Parasse este meu tango…
A que chamam de Parkinson.
Voltaria a dançar fandango
Voltaria a dançar o charleston.
16-05-2005 18:46
ESPERANÇA
Rogério Martins Simões
Entrelaço os meus dedos nos teus
Vivas ilusões, ténues lembranças
Foram inatingíveis os versos meus
Outono breve, poucas esperanças
Ateámos o fogo nas estrelas dos céus
Mapeávamos nossos corpos de danças,
Encontros e desencontros, não são réus
Presos não estamos, procuro mudanças
Agora, adorno enigmas, bordados de cruz
Cintilam horizontes de esperança e luz
Meu fogo arde no mais puro cristal
E se na alquimia busco a perfeição
Respondo às interrogações do coração
Descubro no amor a pedra filosofal.
Lisboa, 02-10-2006 23:58
(Vídeo com pintura de
Elisabete Maria Sombreireiro Palma)
Certo dia o céu desabou em mim: Fiquei a saber que sofria do Mal de Parkinson.
Foi assim que um dia escrevi quando resolvi criar um blog onde se falasse, e desse notícias, de avanços sobre a doença de Parkinson.
Passados estes anos vamos reparando que ficamos completamente sós, melhor, vamo-nos isolando no casulo das nossas casas – entre quatro paredes – e isso é mau.
A internet é um instrumento que nos pode ligar à vida – mesmo virtual. Pese isso, no meu caso, penso muitas vezes no meu futuro – no meu futuro muito negro. É verdade que devemos não desistir! É verdade que existem pessoas, dedicadas ao voluntariado, que tudo fazem para ajudar nas associações de Parkinson, porém, está verdadeiramente em nós, aqueles que ainda se podem movimentar, alterar as coisas procurando combater essa força natural para nos isolarmos.
Falando na primeira pessoa, afectado do lado esquerdo já há mais de 4 anos, não tenho outro remédio senão trabalhar. Isto de aposentações por incapacidade é complicado e, certamente, terei de optar por sair com penalização. Aqui começa a minha revolta quando vejo que o sacrifício não é para todos. Uns comem o bife outros comem as espinhas.
Quem faz a Lei terá de se aposentar aos 65 anos? Precisam de fazer 40 anos de descontos ou basta uma dúzia?
Qual a razão para se uniformizar por baixo, cortando regalias e mantendo, ao mesmo tempo, benesses adquiridas que me fazem corar de revolta!
Serve isto para dizer que a evolução da doença não é uniforme para todos e o mesmo acontece a certos senhores que se reformam com “chorudas” e acumuladas reformas, - um verdadeiro escândalo nacional.
Voltando ao meu caso, noto recentemente uma lenta prisão no movimento na minha mão direita que vai impedindo de reagir, como então o fazia. Como sou Funcionário Público e tenho de cumprir com objectivos! Que objectivos irei cumprir afectado como estou?
-Tenho de me aposentar perdendo 4,5% por ano de antecipação! Se não o fizer e adiando como adio a fisioterapia que vai ser de mim?
Finalizo com uma proposta que certamente resolveria esta questão. Como sabem os jovens estão a ficar desempregados e a emigração vai levando essa mão-de-obra.
A minha proposta é manter a idade de reforma como estava e criar uma Lei que impeça os reformados, que tenham reformas acima de 1000 Euros (por exemplo), de exercerem qualquer trabalho remunerado até aos 70 anos. Deste modo evitava-se que os reformados viessem a retirar postos de trabalho aos jovens, criavam-se empregos e cumpria-se o que tinha sido prometido, há muitos anos, por Lei aos trabalhadores.
Finalizo este testemunho para agradecer mais uma vez aos voluntários que ajudam e apoiam os que sofrem de doença incapacitante.
Aos investigadores que lutam pela descoberta da cura para as doenças degenerativas.
Quero agradecer à classe médica e ao pessoal de saúde que vai fazendo o que pode para remediar o sofrimento.
Quero recordar os familiares e os verdadeiros amigos que estão sempre prontos para ajudar. – Por vezes basta um gesto ou uma simples palavra.
Voltando ao meu caso – que seria de mim sem a constante presença da minha doce Elisabete Sombreireiro Palma. Não tenho palavras ou poemas que consigam explicar o quanto a Bete me tem ajudado. Os meus melhores poemas são-lhe dedicados, como o foi primeiro vídeo que consegui fazer, a muito custo, com a sua pintura.
Falar de Elisabete M. Sombreireiro Palma é falar de verdadeiro amor e dedicação ao próximo. É falar de arte! Foi com a sua pintura e com fados da Fadista Ana Marina que construí o vídeo que aqui deixo.
Esta é a justa homenagem que faço àquela que me ajuda a apertar os botões, que me ajeita o nó da gravata e a roupa. Esta é a simbólica homenagem a todos aqueles e aquelas que, sem darem a cara e sem publicidade ou à espera de agradecimento, ajudam ou estão sempre prontas a ajudar quem sofre.
Saúde para todos
Rogério Martins Simões
http://www.youtube.com/watch?v=iokb8FXy3Gw
http://video.google.com/videoplay?docid=8291487629655378595&hl=en
PARKINSON PORTUGAL